segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cuidado remoto


Durante muito tempo olhava aquela semente
deixada carinhosamente num cantinho.
A mirava com afeto e cuidado. Queria ve-la crescer.
Mas às vezes a terra não é bom travesseiro
e é preciso esperar que rodopie mais o mundo
Pra chegar o momento de florescer.
Ou então lutar por cada segundo
Expressão máxima da vontade de ser.

O vestido de renda apurada, embora meio desbotado,
cobria boa parte do corpo dela
mas as mãos e braços rijos seguravam o regador
na lida diária, no encontro com a novidade.
A novidade do broto carece das mutações da terra
e o silêncio encerra dentro da boca o que escorre pela face.
E mesmo que a moça do vestido ande por mais longe
a sua flor ansiada a espera, num lugar onde só ela soube compor.

É seu segredo, sua íntima cumplicidade
Ninguem sabe onde está ou se frutos dará.
Talvez o fruto que dê não seja de comer
mas de se maravilhar com o heroismo de seu amadurecer.
E, mesmo de longe, sem o tocar, há de se saciar os corações famintos.
Pois que não é com água que o rega
É de sangue, de perfume inebriante,
instintos que se deflagram ao brotar, crescer
E ser como sonhara antes e romper lentamente alcançando um longo florescer.

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