sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O Carteiro e o poeta: Mário R. é quem foi feliz


Gosto quando te calas


Gosto quando te calas porque estás como ausente,

e me ouves de longe, minha voz não te toca.

Parece que os olhos tivessem de ti voado

e parece que um beijo te fechara a boca.


Como todas as coisas estão cheias da minha alma

emerge das coisas, cheia da minha alma.

Borboleta de sonho, pareces com minha alma,

e te pareces com a palavra melancolia.


Gosto de ti quando calas e estás como distante.

E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.

E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:

Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio

claro como uma lâmpada, simples como um anel.


És como a noite, calada e constelada.

Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.

Distante e dolorosa como se tivesses morrido.

Uma palavra então, um sorriso bastam.

E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

(Pablo Neruda)

.......


Que bom que existes...

Ursos imbernam

Nao mais o mel dos beijos apaixonados,

mas o chocolate

na auvorada do avesso

acordar e sonhar

"dormir e acordar"


.....


"No que pensas?"...

Penso em Samossa,

penso naquela moça...

Penso em possibilidades loucas:

em querer-te sem tocá-te

afago que nao se sinta,

memória que nao se minta,

caminhar distante e, nao obstante, nao tao remoto.


Quando faz tanta chuva

Orfeu pesa suas maos sobre nossas cabeças

em seu colo que, agora,

ainda mais convida ao sono profundo.

Há uma certa entrega completa e

consentida,

aposta no esquecimento de uma nova dimensao,

no adormecer,

no sono sem fim:

imbernar como terapia

afeto e carinho como remédio.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


Quero viajar a lembrança daqueles que,

por motivos outros tantos,

não puderam estar aqui.

A importância

de seus atos se expressa,

entretanto,

nos gestos deste ciclo que agora finda.

Desta vitória somos a orquestra.

E, bela ou não a nossa música, ela agora é nossa.

Quase sempre breve nosso som, mas nunca a luta.

Obrigado pela força, inestimável,

à todos aqueles que tornaram este momento possível.


Queria que todos pudessem estar aqui

pessoalmente

Mas mesmo em pensamento os esqueço quase todos

de tantos são.

Os fatos e mesmo por estar aqui,

isso tudo não me deixa mentir ou esquecer

o peso das mãos de todos pro final de mais uma obra.

Pelo caminho, perdaram-se muitos instrumentistas

outras tantas imagens belas de cancoes

ou madrigais nossas mesmas se esvairam

ao som estrondoso e assustador deste palco do mundo

Ainda assim insistimos

com ímpeto meio torpo, às vezes quase desistente, ou heróico,

imprimir uma cadência

no caos...,

nos sentimentos mais profundos e confusos

nos mais sublimes e belos.

Talvez seja melhor aposta a do metrônomo,

em detrimento do relógio.

Pois bem, com ela fazemos a escolha

mais comum e plenamente humana

pela beleza, pela coragem,

pela transparência,

por nós e por você

A escolha de se dar ao luxo e glória

de escolher - mesmo que por entre tantas peripécias -

um valor que norteie a vida.

Mesmo que este valor valha pouco

ao olhos gananciosos dos bolsos da praça.

Escolher o amor por si mesmo, o que mais te felicitas

e não o que mais lhe felicitam a escolher.

Escolher o amor - leve e trabalhoso;

calmo e gratuito;

compensador e aventureiro;

teimoso e transfigurador.

Escolher tudo

e voçê.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Se invoco seu ser, seu estar aonde..., ajuda-me a transpor esta ponte: seus óculos


When I look at the World (U2)

"Quando você olha para o mundo
O que é que você vê
Pessoas acham todo tipo de coisa
Que as fazem ajoelhar
Eu vejo uma expressão
Tão clara e tão verdadeira
Que muda a atmosfera
Quando você entra na sala

Então eu tento ser como você
Tento sentir tudo como você
Mas sem você não adianta
Eu não posso ver o que você vê
Quando eu olho para o mundo

Quando a noite é de outra pessoa
E você está tentando dormir
Quando seus pensamentos são muito custosos
Para querer mantê-los
Quando há todo tipo de caos
E todos estão andando em falso
Você nem pisca, não é
Nem desvia o olhar

Então eu tento ser como você
Tento sentir tudo como você
Mas sem você não adianta
Eu não posso ver o que você vê
Quando eu olho para o mundo

Eu não posso esperar mais
Eu não posso esperar até que eu esteja mais forte
Não posso esperar mais
Para ver o que você vê
Quando eu olho para o mundo

Eu estou na sala de espera
Eu não posso ver pôr causa da fumaça
Eu penso em você e no seu livro sagrado
Enquanto o resto de nós sufoca

Tell me, tell me, what do you see?
Tell me, tell me, what's wrong with me"