sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dois Barcos



"Doce o mar, perdeu no meu cantar"...
De verde e vermelho, tal como as cores da esquadra portuguesa,
Desacorrentar, os remos tamar,
"apontar pra fé e remar".

E se o mar for revolto, somando 14 e 29 1,
poupar os esforços
saltar de um barco a outro,
Ou no cais seguro atracar e aí ficar.

Gastando o tempo necessário e o q vier de cortesia
E tão pouco se descuide, a embarcação 43 despontará um dia
Esbanjando beleza na imensidão de Três Marias
ou na estreitos canais de Veneza.

...

1

Barquinho verde n. 29; barquinho vermelho n. 14

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cuidado remoto


Durante muito tempo olhava aquela semente
deixada carinhosamente num cantinho.
A mirava com afeto e cuidado. Queria ve-la crescer.
Mas às vezes a terra não é bom travesseiro
e é preciso esperar que rodopie mais o mundo
Pra chegar o momento de florescer.
Ou então lutar por cada segundo
Expressão máxima da vontade de ser.

O vestido de renda apurada, embora meio desbotado,
cobria boa parte do corpo dela
mas as mãos e braços rijos seguravam o regador
na lida diária, no encontro com a novidade.
A novidade do broto carece das mutações da terra
e o silêncio encerra dentro da boca o que escorre pela face.
E mesmo que a moça do vestido ande por mais longe
a sua flor ansiada a espera, num lugar onde só ela soube compor.

É seu segredo, sua íntima cumplicidade
Ninguem sabe onde está ou se frutos dará.
Talvez o fruto que dê não seja de comer
mas de se maravilhar com o heroismo de seu amadurecer.
E, mesmo de longe, sem o tocar, há de se saciar os corações famintos.
Pois que não é com água que o rega
É de sangue, de perfume inebriante,
instintos que se deflagram ao brotar, crescer
E ser como sonhara antes e romper lentamente alcançando um longo florescer.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Reflexo


REFLEXO (BH, 12/11/09)

Quando ela acordou já era dia
Seu olhar que esquivava as luzes
seu olfato que resistia aos aromas
Pouco escondiam...
Os sorrisos leves, breves, no canto da boca,
Flagrando um pensamento que
sem querer
se demora mais que um cafezinho
suspirando entre goles as novidades.
A noite, enfim, chegaria de novo
O eterno retorno das possibilidades.

Enquanto cuidava da casa,
ardia a brasa que interrogava
O que mais vale?
Novas possibilidades
ou possibilidades do novo?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tic Tac Vidi Vate


Temo e quero.
Tremo e espero.
Pronto ou não, nasci. Templo ao tempo.
Ele urge e eu a urdir espinhos e flores.

Às mãos recatas: suavidade;
Aos dedos que os ponteiros adianta, causa alarde:
se retalham em dores.

Mas a vida, a vida
A vida é uma colcha de retalhos.
"Mas a vida, a vida
A vida só é possível se for reinventada".
...
E o relogio vai
Tic, Tac;
Nas mãos e dedos
o pique
Nos rostos o plaft;
Vid, Vá-te.
É tempo de viver.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Arqueiro míope


Só sei pensar em pensar
viajar pensamentos
momento por momento
uma vida sem fim, sem rumo, assim
até mesmo sem prumo
E, pra não sucumbir a um só lado
inclino-me bruscamente ao outro, oposto
e aposto que, quando já nao estável estiver ao leste,
quedo me ao sul
sempre e já sem norte
Vagar, vaguear
Arquear-me
no assalto ninja do oeste sem fim
a grama nunca tão verde, o vermelho agreste
o vizinho que em verdade nao existe

Só o nada existe;
Só no nada se é.
Irrompendo, mesmo que tremendo,
Soblevando-se a cada momento
aquele que arde pelo conquistar, palmo a palmo,
o devir, o existir e sua novidade.
...
O mesmo lábio que suave
É ao coração alarde.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

De novo navegar às margens deste inter-Mar


ASSIMETRIA NATURAL

de Lucas Terranova para Wesley, a partir de uma foto sua.

ENTRE A POEIRA SUORENTA E
A SEDENTA VONTADE DE VIVER
PERCEBEMOS A CONECTIVA
FULIGEM FRIA DO CAOS,
A BUCÓLICA SERRA
DE CORAÇÕES DE METAL
OU CARNE...
TRANSITANDO EM NÓS,
EM BUSCA DE HARMONIA!

Wesley Leonel & Lucas Terranova (2°. Ano de Filosofia - FAJE).



Com este poema em parceria (o primeiro que assim componho), volto a postar neste lugar no fluido, pra furtar à nulidade. É trabalho obstetrício de Lucas (companheiro de faculdade), que o compôs, a partir de uma foto minha e comentário à mesma em meu orkut. Participei sugerindo à composição algumas palavras, métrica, acentos, pausas... coisas de wesleyar... Ao que findou com a cara dos dois, no título sempre tão mais difícil de dar. Enfim, está ai. Que, entao, caminhe - que é pra caminhar. Este poema constará na revista virtual editada e organizada pelo colega Lucas: Infinitas Letras # 2, a sair logo logo... em primeiro de novembro. Quem quiser conferir pode acessar: http://www.infinitasletras-revistavirtual.blogspot.com/ , requisitar o valioso arquivo por email ou entrar no blog dele mesmo, através dos meus favoritos.


Bom voltar
À bo'aventura de navegar
a virtualidade crua deste mar.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Edgard Varèse II


Aí segue a segunda parte da obra completa de Varèse.

Este álbum é maior do que o primeiro. Tem mais músicas e talz...


Ah..., enfim. Baixem ai. To com preguiça de escrever.... =)


terça-feira, 26 de maio de 2009


Adeus velho mundo



Bom dia vida nova



Percorrerei a cada segundo



Como o primeiro e derradeiro belo

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Estrada além vai

"Vai minha vida, seu caminho é de paz e amor."
A pinga

Pra engolir

O choro

Pra expurgar.

Vá estrada, vá

Que um dia desses te avisto,

de longe,

E vai ser bom te saber viva.
Oxalá.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Poème Electronique


Hoje iniciarei a série musical deste blog - para o delírio da nação (rs). Já que o que até agora publiquei foram poemas (roubados ou meus), então lançarei mão da obra completa do tão aclamado compositor franco-americano (ou francês naturalizado estadunidense) Edgard Varèse.




Vou me livrar de escrever qualquer coisa sobre o cara. Tem muita coisa boa por ai. Inclusive pode-se entrar no Wikipédia e dar uma olhada. Enfim, hoje em dia há inúmeras fontes mais ou menos boas de informação. E aqueles que tem um "faro" de pesquisador relativamente atento, terão bons resultados.




Não foi muito difícil encontrar as obras completas de Varèse na internet. Este mundo virtual facilita bastante a vida de seus concidadãos (rs). É claro que existem nele preceitos que desaprovam algumas atitudes de seus transeuntes. A isso chamam pirataria. Mas, poderíamos perguntar, que diabos afinal pretendem com isso? Pois que o mar é de quem navega, e as caravelas que ali se encontrar hão de, naturalmente, em combate entrar. E seus tesouros, seus bens, já não são somente seus, mas transitam pra lá e pra cá - bailando com a maré. Talvez fique mais claro (inclusive do que se trata a questão, enquanto "legislativa") se colocarmos, inspirados em Marx, que, antes de mais nada, a produção cultural é um bem comum. E agora uma minoria pretende, cooptando alguns intelectuais, lucrar com a contemplação e fruição de outros. Daí, e se os verdadeiros ladrões não fossem os que nos cobram 30 $ num cd com 9 faixas (ou R$2.000 num instrumento basicasso) ?!? É claro que muitos de nós já pensamos nisso, até mesmo intuitivamente; mas quase nunca nos demos conta da profundidade do problema.




Nossa! Que digressão foi essa. Acabei falando mais que queria. Não é, entretanto, totalmente sem propósito. Afinal, é a primeira publicação em que tomo emprestado de outrem, não um poema, mas uma obra musical. Aliás, este link que segue é do album #1. O segundo postarei em breve.




Por fim, como verão na biografia de Varèse, de seu trabalho nos chegaram apenas algumas obras (doze). Isso facilitou a trabalho de muitas naus (rs). Inclusive desta aqui, que vagará por aí com esta magnífica obra. Quem disse que "cada música dele (Varèse) é uma revolução na música", não estava exagerando muito. De fato, Edgard Varèse figura ao lado de eminentes e geniais figuras da música contemporânea, como Arnold Schoenberg. Ouvindo ao trabalho, perceberão a brutal diferença sintática - e, porque não, semântica também (já que o dodecafonismo, o serialismo, música eletro-acústica, etc estão presentes como "estratégia discursivo-musical").




Quanto à "pragmática", ao sentimento que acompanha a audição, o meu foi de estranhamento feliz. De como algo tão novo e díspare pode, ainda, conter um caminho ("discursviidade") poiético-musical inteligível - mesmo que não facilmente assimilável.




Ouçam e experimentem. Boa viagem.




BAIXAR:


terça-feira, 19 de maio de 2009


Meteoro
À Erinaldo.

Dormir

Um novo dia esperar.
Se é que ele vai chagar.
Pois pode ser que o sol
resolva, benevolente,
nos livrar do inestanque sangrar;
E nos prive,
Deixando de lançar seus raios no horizonte,
pouco belo, nunca nosso.
E que, então, pertencer-nos nunca mais irá.

Esta sorte, assim, nos afogaria
no denso olhar, brumoso,

Da noite densa e envolvente.
Que nunca mais nos negaria
um afago quente e piedoso.
Nossos anseios, de dementes que seriam,

Ninguém a eles negaria,
nunca mais ouviriam um não.

O que seria um sim ou um não,
Que peso teria o mundo e que lima uma faca
Se nesse momento, de tão fraca,
para a vida não coubesse mais existir.


(BH, 15/1/9)


E o amanhã? Ele será? É o futuro o fruto do presente - que aqui se encontra?

Se é assim, veremos...

Se será podre ou, mesmo, se vai frutificar.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Interlúdio IV


: Um tanto quanto desafinado,
Ressoa o entrave no caminho,
A crosta acima da cabeça, aquele um palmo frio à frente do nariz,
O não!

segunda-feira, 11 de maio de 2009


A Duras Penas


(BH, 9/1/9)


No curto vocábulo torto meu
Procurei, por vezes muitas, encontrar
a expressão derradeira e justa
para a emoção que perdeu no turbilhão
do dia ou das palavras.
Mas tudo em vão – sem encontrar
Pois ainda agora na minha boca
O gosto que perseguia persiste
E no fino papel não existe
Quase que aroma nenhum
Do traço que lhe quis dar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009


Lux vita errante

Vaga-lume
Vida-lume
Vida-vaga.
Um lume vago
De vaga luz
Vida, que às vezes reluz
E, outras vezes,
Se’apaga

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Fome de pão e de não


E derrepente era uma saliva quente e grossa que lhe descia lentamente da boca. Havia sangue seco em seu canto. seus olhos embotados de dedos ásperos denunciavam pranto. Mas não mais havia choro. Na rua, sim, havia o coro da multidão ensandecida a correr por seus trocados e seus bocados. Quanta miséria! E nisso está a cumplicidade de ser humano e jogado estar.


Havia uma estranha e amistosa cumplicidade entre ele, mendigo, e os vermes da calçada. eram pisões. Torpores, rumores, berros inauditos. Era a vida esquecida de si mesma. Era um beijo seco no chão. O chão ardente a responder colando os lábios sequiosos de comida. E havia algo o que comer? Havia o que se fartar... Haviam pessoas aos montes. Variados sangues... Várias linguas e bílis. Seu corpo fatigado ansiava por mais maquises, mais meretrizes, feijão azedo dado por mãos tão prestativas... Solicitude dada por maõs tão azedas... Mas a cachaça não tinha..., então pouco pra ele existia de bom. O mágico no álcool é o dom de maquilar o mal e o mau que em todo, daí, passa a, quando muito, só nos circundar, e não mais a nos degenerar ao nosso existir violentamente usurpar. Sem o de sorver em goles apressados, como quem sorve a vida em seus últimos instantes, nada de mais parecia ter a cor dantes. Com os alcoois residindo em seus neurônios a vida era menos o inferno dantesco. Da vida se poderia rir como se ri ao ver um afresco, mesmo que, em estado outro, seja ela um quadro roto.


Havia, não obstante, uma contradição dura que o partia. Aquilo o que o concedia unidade era, agora, a força que o enfraquecia em seus efeitos colaterais... O dia já ia ao longo à sua volta; ele, sob insuportável trauma, só agora agitava as primeiras moléculas para levantar-se - se conseguisse. Pois a força que antes tinha, fora levada pelo último vapor de cólera, pelo último vento frio que o tocara, pela embriaguês que já não existia. Por uma necessidade indestrincável e perniciosa, seu corpo necessitava, exigia, uma garrafa nova, um gole novo, para um novo dia, que era para esquecer ou, pelo menos, apoquentar a agonia. Quanta força para levantar um braço somente! E a cabeça então. Esta parecia pesar o tamanho exato do seu maul, tamanha era a vertigem ao tentar ergue-la e tamanha a espada rude que seu crânio ao meio cingia. Aquele que, desta "pedra", arrancar conseguisse, mereceria o título de bravo e de requintada honraria.


E o que mais continuaria??... Há uma história por traçar... Assim como aquele sem nome que sobia e descia sua garganta. Malditos movimentos peristálticos num deslizar truncado pelo esôfago, estômago e intestino. E que náusea infinda que não cabe nominar. Tanta provação... Tanto desponto... Tanta dor... E tanta, tanta. E por quê é que não queria ou, ao menos, pensara ou admitia ao seu corpo fogo atear? Poderiam "confundir-lo" com um mendigo ou com um índio ou um perdido e queimá-lo; assim então inocentá-lo da dura vida que ali jogado ia.

Mas não. Ele mesmo se faltava... Assim como a força. E era com toda a força de um raquítico e esquelético desnutrido e desiludido que à vida se agarrava como seu único bem. Pois ela ninguém poderia roubar, trucidar ou extinguir. Se agarrava à garrafa de cachaça mais do que se agarra a uma marmita, e tanto quanto se agarra à propria vida.


E, enfim, ela a ela que se agarrava. Mesmo que pra, depois e por um instante, jogá-la a escorrer em vômitos por um boeiro.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Qualé a medida do ódio de alguem?


"SENTIMENTOS DO IMUNDO

Césio Boaventura - Injúrias do Baixo Mundo

Brita e concreto pisuados
Passos firmes
O asfalto encusparado
E jaz!
Permeava um novo
Em tudo isso,
E era a rispidez.
A solidez dos pés
Dos punhos
E de um peito, testemunho,
De que em sua vista
Não havia embriaguez
E sim a clara visão
De um mundo que vai tarde.
De cidade tosca
Que não merece piedade
De Deus ou do Demo.

“E o que temo?
Nada... Só eu.
Medo de fracassar sendo bom
Humano por demais
Cru é o que sou – feito a fel.
Uma humanidade
mais minha
Mais ranzinza.
Martelo, cinzel.”

A língua,
faminta,
Tropeçava em tantos xingamentos
Com amargor ele tossia
E o indizível atravessado na goela.
Um escarro profundo
E uma cusparada, amarela.
Enquanto isso, na garganta corria,
Um gosto que só ele sabia.
Toda vez que ele cuspia
Se lembrava dela
E seu pigarro era também um praguejo.
Como se ela, Humilhando-se,
Boiasse no catarro a
Mendigar um beijo,
Que jamais terá.

Com esta poeira no chão
Que seu nome eu turvo,
Maldigo e renego
O dia em que me vi curvo
Aos teus deleites entregue.
Meu coração grita:
Pragueje, pragueje!
E eu o ouço.
Faço todo esforço
Tentando juntar
do fundo necrosado de mim
Um palavrão digno de sua laia
E que emplaste neste chão sujo
Junto com seu nome
Todo o sentimento vil
Que as minhas forças consome."

sexta-feira, 10 de abril de 2009

"Se é humano então é tudo perigoso" ???


" VERSOS ÍNTIMOS (Augusto dos Anjos)


Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!



Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.



Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.



Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija! "

Há um texto de antropologia muito bom com este título ("Se é humano então é tudo perigoso"). Na linha da afirmação sartreana, "l'enfer sont les autres", levantar-se-ia a pergunta crucial se o relento não é, ao final, o melhor lugar pra se firmar os caminhos de uma pessoa... Mas parece radicalmente paradoxal que a solidão seja assim, uma vez que o sozinho leva consigo a história de muitos outros e a necessidade de traçar pontes, mesmo que aleatórias, por entre as existências. Aqui o casamento "perfeito" entre desconfiança excessiva e individualismo. Talvez seja melhor rever estes ímpetos, em nós tão discretos, guardar a lança pro momento que a valha e a alcança - o momento da maçã ou o do limiar - ; talvez seja melhor estar a par de Pascal e pensar... "não somos tão dogmáticos que saibamos de tudo e nem tão céticos que não saibamos de nada". Dançando sobre o fio da navalha, ou sobre o mar revolto remando (às vezes a esmo), indaga-se a si mesmo, afinal, "a verdadeira questão para 'o ser humano'", "o quanto de verdade podemos suportar"? (Nietzsche). Ao fundo, de abrupto vislumbrar, pode ser que se veja, que, com o equilibrista do lado, o melhor é, em cumplicidade, dividir a vara do equilibar...

terça-feira, 17 de março de 2009

Teorema I: situando o avesso


"And we wait above a road.
We're turning to go home.
And the silence from the side of the car
tells me everything and how we are.
'Cause there's no more trying to make this alright,
There's no more trying tonight.

And you know it's not so easy when you're all alone.
And I wonder if I'm alone in your head.

I know something is wrong, I just dont know what to do.
You say it's only me and that I'm so perfect for you.
I don't want to try no more, I dont want to make this right.
I just want you to be true with me, one time.

And you know it's not so easy when you're all alone.
And I wonder if I'm alone in your head.

Twelve days gone by since I have saw you last.
I'll give this one more try, I'll give it all my best.
And I'll ask "What could you be doing that is so much fun
without me by your side, without me by your side?"
And I'll take a step back, and I'll let you ahead.
And I will take a step away and see if you come back.
Because there's no more trying to make this alright,
there's no more trying, there's no more trying tonight.

We will never be the same." (Sunday Drive - The Ealy November)

quinta-feira, 5 de março de 2009


Paradoxo


Eu sou

Fiel à angústia que me cria

À confusão, ao seu tormento

À multidão de pensamentos.


Eu sou

Fiel à mão que me fraturou

À vertigem que passou e que voltou

Às delícias do sofrimento.


Eu sou

Sozinha, sua leviana companheira

Escudeira da areia quente

dos escárnios das gentes

E da demência que lhe sussurra ao pé do ouvido.


Eu sou aquela

Que lhe goza o castigo

Que lhe inflige o ferro fundido

Que baila em sua língua trêmula.


Sou a rudeza

A amargura do não que te endoidece

A caldalosa mão que te cia

A mentira que lhe apraz

Sua prótese, sua única companhia.


Eu sou a

Mais leal ao seus grilhões.

Sou eu quem lhe concedo

os perdões e os martírios.

As vontades de ser sempre

um indivíduo perdido

entre saudades e vontades.


Eu sou a

Mais leal à tua febre de artista

Guardiã das malícias

Da virgindade sua

que nunca ceou em minhas tetas

que nunca rompeu em minhas letras

O alimento que sempre desejou.


Vá pra longe,

Vem pra mais perto!

Tu és meu fantoche.

Meu fantasma deprimido.

E sempre hão de notar,

em tua face movediça,

Que fez do louco amor que lhe votei

Um tão frustrado broche.


E o que eu sou???
Pergunte ao seu mais profundo desejo de felicidade.
.
.
.
.
.
"Deslizo para a frente
através da minha mente,
volto sempre ao mesmo lugar.
Silêncio
sem resposta."

terça-feira, 3 de março de 2009

Um enxame. Uma ciclicidade


" O Haver [1]


(Vinícius de Morais)

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura

Essa intimidade perfeita com o silêncio

Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo:

— Perdoai! — eles não têm culpa de ter nascido...


Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo

Essa mão que tateia antes de ter, esse medo

De ferir tocando, essa forte mão de homem

Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.


Resta essa imobilidade, essa economia de gestos

Essa inércia cada vez maior diante do Infinito

Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível

Essa irredutível recusa à poesia não vivida.


Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento

Da matéria em repouso, essa angústia de simultaneidade

Do tempo, essa lenta decomposição poética

Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.


Resta esse coração queimando como um círio

Numa catedral em ruínas, essa tristeza

Diante do cotidiano, ou essa súbita alegria

Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória...


Resta essa vontade de chorar diante da beleza

Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido

Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa

Piedade de sua inútil poesia e sua força inútil.


Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado

De pequenos absurdos, essa tola capacidade

De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil

E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.


Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza

De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser

E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa

Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.


Resta essa faculdade incoercível de sonhar

E transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade

De aceitá-la tal como é, e essa visão

Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior

De mundos inexistentes, e esse heroísmo

Estático, e essa pequenina luz indecifrável

A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.


Resta essa obstinação em não fugir do labirinto

Na busca desesperada de alguma porta quem sabe inexistente

E essa coragem indizível diante do Grande Medo

E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.


Resta esse desejo de sentir-se igual a todos

De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história

Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade

De não querer ser príncipe senão do próprio reino.


Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento

Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável

Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços

E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.


Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio

Pelo momento a vir, quando, emocionada

Ela virá me abrir a porta como uma velha amante

Sem saber que é a minha mais nova namorada. "



( [1] Retirado do sítio http://www.releituras.com/viniciusm_haver.asp.
O editor Daniel Gil (um dos críticos mais expressivos de Vinícius) encontrou essa versão corrigida na edição O Melhor de Pasquim 1969-70 (pág. 42), e crê que esta seja a versão final do poema, após oito anos de modificações. )



É impressionante e assustador quando vivenciamos coisas repetidamente, como se estivessem a se repetir. E é mais ou menos assim que se dá a experiencia de algo escrito para nós mas não por nós mesmos.



Quando lí este poema do Vinícius de Morais, tive a legítima impressao de que fora eu mesmo quem me reservei uma carta-memória para que, num futuro distante e imprevisível, eu voltasse a lê-la. Como se eu quisesse me livrar do risco de esquecer de mim mesmo num documento auto-biográfico tão sábio. E é certo que todos nós merecemos esse sentimento de encontro a si mesmo, momento de transparência a si mesmo. A própria raridade da circunstância a confere mais espanto. Imagine como se sentiu o primeiro índio a se ver no espelho, ou o quanto de estupefarto ficou Narciso ao se mirar nas águas. Preso dentro de si mesmo e sem saber dos contornos de sua personalidade, de repente você está face a face com um desconhecido tão próximo e eminentemente seu.


Se o Vinícius não tivesse morrido em 80, diria que ele teria escrito pra mim. (rs) Mas certamente é dele mesmo que fala. Aí me assusta mais como é que duas pessoas podem ser tão pares nas entrelinhas de um poema? Acho que ele deveria ficar feliz por isso. Escrever algo tão belo, mas que mesmo assim pode ficar no esquecimento e, assim mesmo, vencendo as intempéries da história e dos egos, ainda ser capaz de encontrar um coração de forma tão vívida e nova. Feliz por ser e "sentir-se igual a todos", e simples como os outros. Pelo menos aí somos análogos, recolhidos nas tramas de seu poema. Eu, por mim, estou e ficaria contente. Além do presente da Beleza, me prestou uma "ajuda" de autoconhecimento, de encontro e de perda no belo e no subjetivo.


Vou garregar esse poema como meu-hino.

Como meu mantra, minha carta de visitas... ou de espanto.

Vou decora-lo como a quem aprende a rezar

e quem achar que, lendo-o, há de me encontrar

digo que o mais importante poema ainda há de ser escrito.