quinta-feira, 5 de março de 2009


Paradoxo


Eu sou

Fiel à angústia que me cria

À confusão, ao seu tormento

À multidão de pensamentos.


Eu sou

Fiel à mão que me fraturou

À vertigem que passou e que voltou

Às delícias do sofrimento.


Eu sou

Sozinha, sua leviana companheira

Escudeira da areia quente

dos escárnios das gentes

E da demência que lhe sussurra ao pé do ouvido.


Eu sou aquela

Que lhe goza o castigo

Que lhe inflige o ferro fundido

Que baila em sua língua trêmula.


Sou a rudeza

A amargura do não que te endoidece

A caldalosa mão que te cia

A mentira que lhe apraz

Sua prótese, sua única companhia.


Eu sou a

Mais leal ao seus grilhões.

Sou eu quem lhe concedo

os perdões e os martírios.

As vontades de ser sempre

um indivíduo perdido

entre saudades e vontades.


Eu sou a

Mais leal à tua febre de artista

Guardiã das malícias

Da virgindade sua

que nunca ceou em minhas tetas

que nunca rompeu em minhas letras

O alimento que sempre desejou.


Vá pra longe,

Vem pra mais perto!

Tu és meu fantoche.

Meu fantasma deprimido.

E sempre hão de notar,

em tua face movediça,

Que fez do louco amor que lhe votei

Um tão frustrado broche.


E o que eu sou???
Pergunte ao seu mais profundo desejo de felicidade.
.
.
.
.
.
"Deslizo para a frente
através da minha mente,
volto sempre ao mesmo lugar.
Silêncio
sem resposta."

Um comentário:

  1. Resta essa obstinação em não fugir do labirinto

    Na busca desesperada de alguma porta quem sabe inexistente

    E essa coragem indizível diante do Grande Medo

    E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.

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